Get Back!


Assisti a The Beatles: Get Back (documentário dos Beatles dirigido pelo Peter Jackson) e me encantei. Não sei especificamente o porquê, mas me encantei, como poucas vezes na vida. 

Estou na busca de tentar entender as razões de tamanho encantamento, mesmo sabendo que encantamento não tem explicação, pois o encanto não pertence a lógica, encanto pertence ao místico, pertence ao mistério, pertence ao coração. 

Entretanto, ainda assim, seguirei minha ousadia. 

Olha, não é que eu não fosse um fã dos Beatles antes, mas eu nunca fui um FÃ (pelo menos até agora) de verdade. Minha formação musical passou longe de ser influenciada diretamente pelos Beatles. Eu pouco os ouvia. Por sinal devo admitir alguns sacrilégios aos fãs da banda; o primeiro é que por muito tempo não conseguia diferenciar a voz do John e do Paul - que vergonha, perdão aí viu; outros crimes que preciso revelar, para mim, Ringo sempre foi nome de pet e Harrison sempre me remeteu a um ator, não a um Beatle. 

Até por essa razão, muitas vezes eu me perguntei a respeito dos fãs da banda: Por que tanto fascínio? Afinal de contas, já existiram tantos músicos melhores; tantas letras, se não melhores, tão lindas quanto as de John, Paul e Harrison; tantas melodias; tantas notas; tantos riffs; vários refrãos; então como explicar de onde vem tamanha “idolatria” pelos europeuzinhos metidos a hippies?

Quero deixar claro que, hoje eu sei que os Beatles são encantadores por si só e sei que a maioria dos que me leem nesse instante devem ter mil razões para explicar o seu encantamento pelos garotos de Liverpool. Lembre-se estou encantado, ou seja, hoje eu sou um desses. Hoje estou no nível de ter meu Beatle favorito, de pensar em fazer o corte de cabelo tipo tigelinha aos 34 anos de idade, de aprender todas as músicas no violão, de ouvir a discografia completa com frequência, de “maratonar” 8 horas de documentário em um único fim de semana, de ter playlist exclusiva e por aí vai.

Mas antes de tudo isso, sempre me permitia perguntar, por que tamanha comoção? Por que tanto fascínio? Por que tanta atração? De onde vem tamanho magnetismo? 

Depois do "Get Back" entretanto, minhas perguntas mudaram, minhas questões agora são: Por que “Blackbird” e “Penny Lane” me fazem chorar? Por que “Drive my car” me empolga? Por que eu canto a todos os pulmões “Dont Let Me Down” e “Get Back”? Afinal, não nasci na década de 60, também não nasci em Liverpool,  tampouco na Inglaterra ou na Europa - eu nem falo inglês direito. Por muito tempo, a única parte que eu sabia de “Hey Jude” era justamente o título da música e o seu final onomatopeico “na na na na na”, e muito influenciado pela versão do Zezé di Camargo e Luciano. Então por quê? 

O “pior” é que assistir a “The Beatles: Get Back” não me ajudou. Só fiquei mais confuso, se por um lado o documentário me fascinou, por outro, me deixou ainda mais perdido em entender o porquê desse encanto. 

Os Beatles eram comuns, por vezes legais, por vezes chatos, outras vezes divertidos, infantis, inspiradores, por vezes preguiçosos e lenientes, outras criativos e inovadores, mas sempre parecidos com qualquer outra pessoa. John tinha seus vícios; Paul tinha seus medos; Harrison suas manias; Ringo seu tédio. Eles eram gente normal, nada de extraordinário havia neles que justificasse esse afã. 

Talvez a resposta esteja aí, pois a vulgaridade de quem produz a beleza é ambígua, tal banalidade aproxima, “reduz” e desmistifica, ao mesmo tempo que encanta. Nos remete a um mistério fascinante: Como pode o ordinário produzir o extraordinário? 

Ver os integrantes da maior banda de todos os tempos - polêmica para alguns, mero clichê para outros - como gente comum e que ao mesmo tempo produziu algo memorável e eterno, nos faz se conectar com a possibilidade, que mora em todos, de sermos belos. Afinal quem não tem seus vícios, não tem seus medos, não tem suas manias, não tem seus tédios?

Talvez tamanha simplicidade seja a razão de encanto. Pois a beleza da arte, é o encontro com a beleza que há em nós, sendo assim, a arte nos faz amar o outro ao mesmo tempo que aprendemos a amar nós mesmos. 

Talvez aí esteja uma possível resposta, ou talvez não. Talvez eu nem deva prosseguir com minha indagação. Talvez ela seja sem sentido, pois só importa o que eu sinto. 

Afinal de contas, o belo é tão subjetivo que foge a exatidão, mas é tão real que nos toca e é isso que importa para arte, tocar as pessoas! 

Let it Be!


Silas Lima

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