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Devaneios

Quem incriminou o abraço? Quem nos tirou a capacidade de chorar pelo outro? Quem nos tirou a possibilidade de sentir a dor alheia? A vida só tem sentido quando o abraço fala mais alto que a razão, quando o raciocínio se perde ante a um beijo, quando esquecemos os argumentos para se conectar ao coração. O mundo é por demais desconhecido e com certeza jamais descobriremos o que move as entranhas de um ser, são tantas condições, conjunturas, circunstâncias, toda exatidão nos tira a chance de nos encontrar no outro. Esse mundo que distancia as pessoas, mata, não porque armas são levantadas, mas porque os abraços foram trocados, por um mundo de algodão envolto de cores separadas por palavras que tentam sem sucesso resumir vida em livros e frases. Palavras que por sinal jamais conseguirão expressar o que há de mais visceral, jamais conseguirão dizer a intuição, o sentimento, o coração. Nesse mundo onde ninguém se aproxima, o caminho obvio é a distância que esfria

É muito maior

Como pode a vida ser reduzida? São tantos meandros, caminhos, talentos, tantas pessoas, culturas, terras, línguas, ideias, ideais, histórias, expressões, gestos, beleza, problemas, angustias, alegrias, dores, soluções, como pode ela ser reduzida? Como pode essa vida tão diversa, tão plural, ser reduzida? Como reduzir o que não se sabe o tamanho? Como totalizar o conhecimento de algo que não conhecemos e nem vamos conhecer em sua totalidade? Não somos capazes, não temos tempo. Como posso eu pensar que defini o indefinível, que dei fim ao que é infinito? Em nossa incapacidade de se colocar no lugar do outro, procuramos no universo alguma coisa que possa reduzi-lo, que possa defini-lo, me livrando assim do árduo trabalho de entende-lo. Estamos prontos a combater, pois temos a pretensa arrogância de achar que nossos ideais são suficientes para todas as questões da vida, e assim a reduzimos. Nos apegamos ao superficial julgamento dos iguais, dos grupos, dos

Ferimos Deus

Todo processo opressor, todo gesto indiferente, todo silencio e omissão fere Deus. Não porque um oprimido, um carente, um pobre, um doente ou um necessitado deixou de ser atendido, não porque quem podia abraçar cruzou os braços, ou porque quem podia gritar um grito de denuncia se calou, ou porque quem viu fingiu esquecer, ou porque quem estava perto se afastou, ou porque o amado se tornou indiferente e não amou. Deus participa da história, de modo altruísta, preocupado com a vida e com quem vive, não dirigente, mas sim torcedor, não governante, mas sim professor, não dono, mas sim sócio, não chefe, mas sim Pai...conosco, entre nós, em nós. Deus se fere não porque alguém sente fome, ou porque alguém sente frio, ou porque alguém chora, Deus se fere porque Ele sente fome, porque Ele sente frio, porque Ele chora, porque Ele está só, porque Ele é desprezado, esquecido, ignorado, espancado, Deus se fere porque Ele está lá com os seus pequeninos, que tem fome e não tem o que com

Encontros e Desencontros

A vida é uma coisa muito complexa, uma teia de decisões que desencadeiam inúmeras consequências incontroláveis, consequências que transformam caminhos, direções e rumos da vida de inúmeras pessoas. Como não temos controle do que decidimos, tendemos a evitar drásticas mudanças, nos mantemos o máximo que podemos na estrada conhecida, no mesmo passo, sem se posicionar diante do que está a nossa frente, muitas vezes nos silenciamos ante ao mal, receosos com o porvir nos mantemos sem lutar pelos nossos valores, temos total ciência de que o caminho que estamos não é o melhor, mas por medo do pior, fechamos os olhos para as saídas a beira da estrada, até porque vivemos a espreita de que o caminho melhore repentinamente, na esperança de que tudo vai mudar sem que nos seja necessária uma mudança. Afinal de contas, andar onde nunca se andou é difícil, perigoso, desconhecido, nos enche de temores. Tememos o que vão pensar, tememos sair antes da hora, tememos machucar os outros, teme