O Maior Fenômeno Cultural da Temporada

Por falta de tempo, hoje não irei escrever o texto e sim postar o texto de um grande amigo: Zeca Camargo.





Leonardo Araujo
Ateu



Homem-aranha? "High school musical"? Edson e Hudson? "O hospedeiro"? "Paraíso tropical"? Marley? Shrek? Alemão? Nada disso.

O maior fenômeno cultural da temporada, aquele que tem dominado todas as rodas de conversa (das corretoras de valores aos recreios do ensino básico); aquele que é assunto nos salões de cabeleireiro, nas festas de casamento e nas reuniões de pauta dos mais conceituados órgãos de comunicação do Brasil (e, quiçá, do mundo); aquele sobre o qual eu nem vou precisar me debruçar mais de 5 mil toques (porque não tem muito como me alongar sobre o óbvio); aquele que, se você sentou na frente de um computador e entrou na internet nas últimas duas semanas (e, se você está lendo isso, é claro que você se encaixa nesse grupo) certamente já cruzou; aquele que faz o "tapa na pantera" parecer algo da era mesozóica; aquele que você, antes de ver o vídeo, apenas recebeu o arquivo sonoro e ficava imaginando quem teria feito aquilo; aquele que, se você quiser rever ("rever" sim, pois eu acho quase impossível que você ainda não tenha visto) vai ter que tirar as crianças de perto - ainda que, muito provavelmente tenha sido uma criança de menos de dez anos que tenha te apresentado isso; enfim, aquele fenômeno cultural que tem feito milhões de brasileiros chorarem de rir é simplesmente uma música de um verso só. Já sabe qual é, não sabe? Vou dizer, hein... (olha as crianças!): "Vai tomar no cu".

Ruborizado? Ruborizada? Devo informar que você é a exceção. A totalidade das pessoas com que troquei informações sobre esse, digamos, tema musical, não recebeu a mensagem com o menor choque - até porque é simplesmente, por mais careta que você seja, é impossível não se desarmar quando a voz poderosa anuncia pela primeira vez... "Vai tomar no cu". Mas, pode ser que você tenha chegado hoje de uma sonoterapia de seis meses numa cápsula submarina a 600 metros de profundidade do mar congelado de Marte e não saiba do que se trata. Para você, segue aqui uma descrição rápida.

Uma introdução brega (não o brega do Pará - apenas brega) anuncia o pior: mais uma balada açucarada para empestear as FMs. Geralmente, se você está ouvindo com um amigo que já conhece a "canção", ele pede paciência - vale a pena esperar... De repente, sem aviso, a voz e o verso. Sua primeira reação - óbvia - é: "não foi isso que eu ouvi". O ritmo lembra um "soul" antigo - quase um gospel. Você acha que é uma versão, que você já ouviu aquela música antes - mas o que você está reconhecendo não é a melodia, são as palavras. E não vai dizer que você nunca as disse em pensamento ou mesmo em voz alta. Hoje! Você sabe que você fala isso a toda hora - sabe que ouve isso a toda hora! O que você não consegue entender é como aquilo virou... uma canção. E boa!

Escrevi há pouco que ela é feita com um verso só, mas na verdade há uma variação: "vai tomar no meio do olho do seu cu". E com isso, apenas com isso, ela se desenvolve. Quer dizer, você só percebe esse "desenvolvimento" todo quando a escuta pela segunda (ou terceira) vez, porque da primeira (ou segunda) você está rindo tanto que não consegue pensar em mais nada. No meu caso, a única coisa que me vinha à cabeça durante os breves minutos da primeira (e da segunda) audição era: "o que é isso? o que é isso? o que é isso?".

Isso é humor - puro humor. Sensacional. Brilhante. Inesperado. E - é preciso acrescentar, pois boa parte do que recebe o nome de humor por aí não é digno desse adjetivo - engraçado! Não me venha com esse discurso besta de que é baixaria. Baixaria é a metade dos spams que eu recebo na minha caixa postal. Isso é humor. E vamos dar o crédito logo, porque a idéia - que, ao que parece, nunca foi concebida com a intenção de se tornar um "hit" dessas proporções - é de uma comediante chamada Cris Nicolotti (descobri mais sobre ela nesta entrevista), que começou a improvisar o que seria um "esboço do sucesso" nos ensaios de uma peça que ainda nem estreou e vai se chamar "Se piorar estraga". Alguma dúvida de que vai ser um sucesso?

Como prometo a mim mesmo, não vou gastar nem 5 mil toques (sem espaços!) com um assunto que basta você ouvir para entender tudo.

E prepare-se, pois há duas semanas esse mantra não me sai da cabeça - e lá deve ficar por um bom tempo. Aliás, isso não sai da cabeça de ninguém. Logo no início da "febre", ainda era legal, quando alguém entrava na sala, você virar para a pessoa do lado e, em sinal de "apreço" a quem chegava, cantarolar, sem as palavras, apenas a frase musical: "lá lá lá lá lá...". Algumas vezes chegamos ao requinte de apenas levantar os braços e ondulá-los de um lado para o outro em silêncio, como se só a coreografia bastasse para... passar a mensagem...

Mas agora não dá mais - todo mundo já conhece, já deixou de ser um código... Já está difícil até fazer piadas, ou melhor, fazer variações de piadas sobre o tema. Na tentativa pífia de ser original, deixo você hoje com a melhor sugestão de uso da música (fora dos palcos, claro): colocar em espera telefônica. Já pensou?

- Posso falar com o Glayson
- Claro, só um minuto... (entra a música...)

Se tiver uma idéia melhor (não vale "deixar nos comentários do blog do Zeca" - já pensei nisso antes, mais criatividade, por favor!), mande pra cá. E quinta-feira nos encontramos de novo para mais uma Curva das Expectativas Flutuantes - quem diria, tanta coisa acontecendo!! Zeca Camargo


leonardoaraujo@valoresdavida.com

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