A morada do amor
Estar rodeado de gente e se sentir sozinho, sorrir e não se
sentir feliz, chorar sem sentir dor alguma, se despedir sem sentir vontade de
ir embora, ter sono sem sentir vontade de dormir, despertar sem sentir vontade
de acordar, dizer o que não se quer falar, andar aonde nunca se imaginou caminhar,
concluir o que ainda não chegou ao paragrafo final, se encontrar com aquilo que
nunca foi procurado.
Nos paradoxos que envolvem o querer, o fazer, o estar e o
sentir, estão os sentimentos mais intensos que a vida pode nos dar, é na luta
do natural versus o programado, do que sou versus o que quero ser, do que faço
versus o que desejo, que nos forjamos, nos descobrimos, que colocamos a prova o
que há de valor em nós, é a aonde a vida se mostra e se impõe de modo abrupto,
incontrolável.
Nessas horas a dor e o riso são inexplicáveis, são apenas
sentidos e não podem ser apreendidos pela razão, pois toda conclusão sobre o
que sentimos é uma mera conexão causal sem a menor possibilidade de ser provada
ou dita, afinal de contas palavras são habitantes do mundo que conhecemos, e de
forma alguma elas podem abarcar esse outro mundo pouco conhecido, o mundo que
existe dentro de nós.
Quando o querer e as possibilidades não se convergem, nos
vemos obrigados a dura decisão de tomar as rédeas da vida, de tira-la do piloto
automático, ai é quando construímos o que somos ante ao que podemos ser, e não
se engane, dessa decisão ninguém escapa. Nessa digressão, nesse afastamento,
não há como não escolher um caminho, e até o nada se torna um fazer, se torna uma
decisão, é o difícil trabalho de levar a vida, uma vez que ser levado por ela
não é mais possível.
Nesses momentos confesso respeitar a força dos que não se
importam, dos que são suficientes, para eles bastam o barco, a maré e nada mais.
Contudo me encanto e movo com a carência dos que não
conseguem se afastar, com a coragem dos que assumem a vida e se transformam no
melhor que podem ser, com a fraqueza bela dos que não se bastam, com a angustia
dos que se importam.
É nessa “responsabilidade do fazer” que mora o outro, que
mora Deus, que mora o AMOR.
A vida é bela e a
ideia é nobre
Silas Lima
Comentários