Cansei


Das definições de cansaço, redução gradual da resistência é a que mais me agrada, isso porque resistir é a palavra que define os que possuem força, capacidade de resistir é o principal termômetro para durar, para viver.

Resistimos todo dia, todo instante, resistimos ao transito das grandes cidades, ao mercado de trabalho, resistimos aos descasos políticos, resistimos às injustiças do mundo, resistimos a falta de educação, a falsidade, a indiferença.

Há até quem diga que viver é resistir, pois nosso corpo vive resistindo, e resistindo vivemos, nascemos preparados a resistir e à medida que vamos crescendo aprendemos novos e diversos modos de resistir, pois sendo feitos a vida, nossa estrutura naturalmente se opõe a morte em todos os seus sentidos. Certamente você já ouviu falar em “extinto de sobrevivência” e “mecanismo de defesa”. Ou seja, talvez seja mesmo a resistência própria do viver.

Afinal resistimos, resistimos, resistimos e resistimos.
O mal é que toda resistência tende a deteriorar o material que resiste, por isso se faz necessário um tempo de repouso, nele sua capacidade de resistir é renovada. Para o corpo, o sono e o descanso são os carregadores de nossas energias.

Afinal depois de um dia cansativo, uma boa noite de sono é um copo de agua no meio do deserto, e assim tese resolvemos o cansaço que provém do corpo.

Entretanto há uma espécie de cansaço que não provém da resistência do corpo, é um cansaço que está numa camada mais profunda, está na alma, e esse cansaço não está relacionado aos esforços ao qual o corpo se expõe, esse não se resolve necessariamente com uma boa noite de sono, com um dia num Resort ou num SPA, ou num fim de semana num praia paradisíaca, para esse tipo de cansaço não há uma receita de repouso, e às vezes parece não haver descanso.

Quem resiste a uma desilusão amorosa não sabe quando aquele peso na alma irá passar, quem resiste a preconceitos sociais, não acorda no dia seguinte e encontra um mundo totalmente livre de intolerância, logo para esses resistir vira uma constante.

O problema é, todo material que resiste se desgasta e todo material desgastado tende a perder gradativamente a capacidade de sentir, é muito comum ver quem muito resistiu na vida se tornar insensível à dor alheia, afinal de contas a alma, tão quanto as mãos, também caleja e  sendo ela um material que não pode ser trocado quando se desgasta, entramos num caminho de morte, pois o insensível vive, mas  morreu.

Por isso digo, “não quero morrer!”.

Me sinto cansado, certas decisões me trouxeram tensões que em alguns dias parecem insuperáveis. Por mais que me digam e por mais que eu saiba que o respiro há de vir, tem momentos que eu não consigo acreditar.

Por experiência sei que resistir cansa, e minha luta é que meu cansaço não me mate, mesmo enquanto vivo. Não quero que por sofrer eu perca a capacidade de imaginar o sofrimento do outro, nem que minha dor me tire a capacidade de sentir a dor do outro, há quem enfrentem tensões tão longínquas quanto a minha possa ser.

Por mais que existam momentos ao qual a vida parece não desligar, não quero calejar a alma...


A vida é bela e a ideia é nobre.

Silas Lima




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