Pandemia, Esporte, Sentido



Sei que vai parecer estranho em tempos de confinamentos e quarentenas, tempos onde as pessoas estão aprendendo a lidar com a sua solidão, com o seu tédio, com a falta do afeto, das festas, das ruas, dos abraços, eu vir me inspirar a escrever por causa do esporte.

Parece desconectado do tempo em que vivemos, ser inspirado pelo esporte. Em tempos que só se fala de Economia, Política e Saúde, parece o Esporte algo de menor valor, e de fato o é quando comparado a vida - mas da lista acima exceto a saúde não o é, pois presumo que para a maioria das pessoas a vida é o bem maior que temos.

Já explico que essa inspiração surgiu da decisão histórica do adiamento dos jogos olímpicos de Tóquio, daí me parei a pensar o quanto, esse é um momento histórico, de alta grandeza para a História, tal como as grandes guerras e a peste bubônica. Minha geração – tenho 32 anos, e talvez a geração passada não tenha presenciado algo parecido, o mundo parado, os paradigmas políticos, econômicos, filosóficos, sociais e sanitários sendo colocados em cheque, a humanidade se fazendo inúmeras perguntas.

Estamos vivendo do melhor jeito que poderíamos viver?

O mundo que construímos é bom?

Eu como um bom otário – referência à música Dom Quixote do Engenheiros do Hawaii, creio que, temos em nossas mãos a chance real de melhorar o mundo, de reformá-lo, de fazer dele um lugar melhor de se viver, seja em escala macro, repensando nossos modelos de construção social, ou seja em micro escala, revisitando e repensando nosso próprios valores. Como bem disse o Papa Francisco, na histórica celebração do dia 27 de março de 2020 na inimaginável praça de São Pedro vazia, “é tempo de separar aquilo que é necessário daquilo que não é”.

E o necessário é a vida, preservá-la, torná-la mais prazerosa, e fazer isso a todos, garantir a todos, dos desocupados aos workaholics,  dos pobres aos ricos, dos solidários aos egoístas, dos bons aos maus, das crianças aos idosos, do leste ao oeste, do norte ao sul, dos religiosos aos ateus, dos que acreditam aos descrentes, a todos a vida. Ninguém, volto da dizer, NINGUÉM merece morrer, e matar é acabar com a nossa própria vida.

Temos a oportunidade de lembrar que o necessário é algo maior, acima de qualquer ideia, de qualquer lógica, e nesse sentido é mais passional do que racional, é mais instintivo, primário e selvagem, é a nossa vida e a vida dos outros, precisamos criar mecanismos que se elevem acima de qualquer discussão, para guardar a vida. Qualquer estrutura que roube a primazia da preservação da vida é danosa, má.

Talvez a pandemia, só nos fez perceber que o jeito que estamos vivendo tem nos roubado a vida, ou pelo menos nos roubado a capacidade de olhar para a existência, a existência do outro.

Sozinha a humanidade apenas sobrevive, pois viver não é respirar, viver é ter sentido, e o sentido é aquilo que nos fez sentir, ou seja aquilo que nos tocou, aquilo que foi sentido.

Então qual é o sentido? Te digo, com convicção, que o sentido do viver é/está no AMOR, é o amor que nos toca, todo sentido reside na casa do Amor. Seja pela dor de ver caminhões carregando centenas de corpos, ou pela esperança de ver as pessoas cantando na janela, ou pela gratidão traduzida em aplausos, de ver gente arriscando a sua vida para manter a vida de outros, e todos esses amam, sentem, ou seja... sentido.

O fim da vida é sempre choro, porque sentimos, saudade, falta, carinho, beijo, abraço, amor. 
Lembre-se do que te faz sentir, que te faz chorar, que te toca, se não houver, você não tem sentido.

Mas esperança, pois DEVE – como todo seu imperativo, haver alguma coisa que ainda te emocione.



A vida é bela e a ideia é nobre

Silas Lima



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